Maria Montessori entendeu que as crianças ficam mais ou menos sensíveis a diferentes tipos de estímulos ao longo dos anos. Quando a família, o lar e o ambiente estão adaptados aos períodos sensíveis de cada criança, elas se desenvolvem muito melhor, com mais prazer e são emocionalmente mais estáveis. Acontece que, quando isso não ocorre, a criança acaba sendo impedida de se desenvolver em sua máxima potência, tendo que se esforçar muito para se desenvolver e tende a ser emocionalmente mais instável e insatisfeita. Apesar de o desenvolvimento ainda ocorrer, pode ser mais desafiador e menos agradável para todos os envolvidos. 

Um erro comum é achar que os períodos sensíveis têm idades exatas, começando e terminando em um determinado momento. Um jeito mais correto de compreender esses momentos seria entender os períodos sensíveis como janelas que duram em média dois anos e envolvem processos de aprendizado com expectativas de experiência. 

Imagine uma casa com muitas janelas. Cada janela aponta para um local diferente. Uma janela dá para o jardim, onde tem muitas coisas para observar e espaço para se mover. Outra janela aponta para uma festa em que muitas pessoas estão conversando e interagindo. Uma outra janela está voltada para coisas muito pequenas. Assim como em nossa casa abrimos as janelas para deixar a luz entrar, o cérebro das crianças faz o mesmo. Mais ou menos a cada dois anos, um grupo diferente de janelas é aberto e novas partes do mundo e da existência humana podem ser observadas, aprendidas e desenvolvidas. A criança vai transitando entre estas janelas para poder aprender sobre si mesma e suas potencialidades. Uma hora ela para e olha pela janela do movimento, em outro momento ela olha para a janela da linguagem,  em outro para a janela dos detalhes. Cabe ao adulto perceber para qual janela a criança está olhando no momento e onde ela está encontrando maior satisfação e concentração. O cérebro quer e precisa se desenvolver, não para simplesmente aprender alguma coisa, mas para a sua sobrevivência. 

Todos os períodos sensíveis estão ligados à sobrevivência da criança. Os períodos sensíveis antecedem as experiências, ou seja, é como se a janela se abrisse e a criança é impelida por uma força interior (quase incontrolável, pois é algo inconsciente a ela), que procura no ambiente as experiências necessárias para suprir a necessidade dessa janela. O impedimento dessas experiências é que geram a “birra” e, quando se torna algo repetitivo, são chamados de desvios de caráter, que podem evoluir para alguma doença psíquica. 

As crianças, como toda a humanidade, são muito mais fluidas do que as caixinhas que nossa mente tenta criar para delimitar as coisas. As idades estimuladas são apenas parâmetros gerais para o acompanhamento do desenvolvimento, mas podem acontecer um pouco antes ou até mesmo um pouco depois. É sempre importante ficar atento ao que a SUA criança está apresentando. Quando a criança é impedida de agir, seja por um adulto ou seja por algum obstáculo físico ou emocional, a janela se fecha e, então, aquilo que ela poderia ter “absorvido” com mais facilidade vai ter que “aprender” com mais esforço. A boa notícia é que as crianças têm muita plasticidade cerebral e por isso tudo é recuperável, no entanto, com mais esforço e energia. 

Vale ressaltar que existem sim algumas datas limites, principalmente em relação ao desenvolvimento da fala e motora. Esteja sempre em contato com o seu médico/a pediatra para caso haja necessidade de intervenção. 

Os períodos sensíveis são como janelas que se abrem e pelas quais as crianças podem construir a si mesmas a fim de exercer seu objetivo enquanto ser humano: o de dominar e dirigir a si mesma, respeitando seus limites e suas vontades. Cada período pode ser identificado através da simples observação do adulto em relação à criança. Esta pode parecer uma tarefa simples, mas também pode ser bem desafiadora. Muitas vezes observamos a criança com a lente das nossas vontades e expectativas, que podem acabar encobrindo o que a criança está apresentando e necessitando de fato. 

Montessori descreve esses períodos como fases de extrema paixão e dedicação da parte dos bebês e das crianças por algum aspecto do seu próprio desenvolvimento. Essa paixão repentina provoca uma dedicação exagerada a esse elemento ou aspecto. A consequência disso é que há um aprendizado muito grande quase que desproporcional ao tempo dedicado. Se aprende muito em pouquíssimo tempo e é possível notar isso nos saltos de crescimento dos bebês. 

Vamos fazer um pequeno exercício de imaginação para tornar mais fácil de entender o que é o período sensível e como ele se manifesta: 

Imagine que um dia você acorda e sente uma paixão incontrolável para aprender a fazer bolos. Você começa a buscar receitas, assiste vídeos de pessoas fazendo bolos e dando dicas. E quanto mais você estuda, mais você quer aprender. Você até mesmo deixa outros interesses de lados e só faz isso até saciar a sua necessidade. Você pode aprender muito em pouco tempo e aprende, mas é de forma cognitiva, consciente e voluntária. 

O período sensível da criança funciona de forma semelhante, no entanto é inconsciente e involuntária. Ela não consegue “desligar” essa necessidade, a menos que o ambiente seja totalmente desfavorável. A consequência do ambiente desfavorável é ou crises de raiva ou apatia da criança. Uma criança que pode seguir livremente as necessidades do período sensível é tranquila, centrada e concentrada.

Autoras:

Ana Carolina Martinez e Katia Murata Arend

Referências:

Maria Montessori. Una biografia – Paola Giovetti 

O Método Montessori – Maria Montessori

O Segredo da Infância – Maria Montessori

Para ver mais:

Um filme: Maria Montessori (2023)

Um curso: Lar Montessori – O poder da criança

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